No final do ano passado, fomos conhecer a nova casa da Dress (já lá estão há algum tempo, nós é que ainda não tínhamos lá ido) e conversar com a Teresa sobre o caminho desta instituição que muito admiramos. Partilhamos convosco a nossa conversa!

PARTE 1/3

O profissionalismo é aquele a que já nos habituaram e que, para mim, faz parte da identidade deste projecto. Querem olhar connosco para o percurso da Dress For Success Lisboa (DFSL) desde 2015, altura em que lhes fizemos a primeira entrevista? Vamos a isto!

A Equipa passou de 4 para 13! Devidamente estruturada nas áreas de Comunicação, Programas, Voluntariado, Sustentabilidade e Gestão. A Teresa Durão partilhou comigo, com alguma satisfação, que passaram de 20, para 40 voluntárias activas, e assim denunciou a boa energia e contribuição positiva que trazem ao projecto.

Agora ponham os cintos: apoiaram 3.495 beneficiárias até ao final de 2019!

Vamos lá então começar esta nossa conversa que me sabe a "regresso a casa", apesar da casa em si, ser outra. Para quem não as conhece, a Teresa Durão é a Presidente da Dress For Success Lisboa. A Filipa Gonçalves é a Vice-Presidente e estas duas senhoras são o motor e maestro deste sonho tornado realidade, todos os dias.

Carolina (C): Como era a Dress 2015 e como é em 2020?

Teresa (T): Aquando da nossa primeira entrevista era um projecto muito inovador porque abordava a questão da inclusão duma forma única, facultando coordenadas para as mulheres em situações mais vulneráveis, mas que procuram integrar o mercado de trabalho e obter a sua autonomia financeira. Também se destacava porque haviam poucos projetos a trabalhar o empoderamento feminino e a abordar as questões da igualdade de género. Ao longo destes anos existem mais organizações focadas nas mulheres, o que é óptimo, mas reconhecem que o reencaminhamento que fazem para nós ajuda no trabalho que desenvolvem no terreno, fazendo da DFSL um parceiro de referência que recebe mulheres de todos os contextos, sempre com o objectivo de as integrar no mercado de trabalho.

A Dress de 2020 é um pouco diferente porque já tem novas formas de abordagem, ao longo destes anos desenvolveu vários programas e abriu o Centro de Carreira onde o foco está na capacitação, formação e preparação para alavancar mais facilmente a integração no mercado de trabalho e a retenção do mesmo.

Um dos programas que temos desenvolvido durante estes anos são um conjunto acções de sensibilização junto das escolas profissionais e dos parceiros sociais, em que abordamos várias questões muito importantes para trabalhar a mudança e o crescimento, quer profissional, quer pessoal. Já percorremos o país a levar, a todas as mulheres, mensagens de esperança e de confiança.

A nossa postura representa, por si só, um factor de diferenciação, pela forma como trabalhamos a dignidade, o respeito, o acolhimento de todas as mulheres que nos procuram e pela proximidade afectiva que construímos com todas as pessoas e empresas que nos apoiam.

A Dress sempre se adaptou às necessidades das pessoas, e nunca se acomodou. Teve que se reinventar ao longo destes anos e preocupa-se com outras temáticas, porque entendeu que todo o projecto, só por si, tem muito potencial. Por exemplo, isto que te vou dizer em 2015 não era uma preocupação para nós, mas fomo-nos apercebendo da importância que a Organização tem a nível ambiental.

Toda a roupa que está no nosso closet é resultado de campanhas em empresas e de doações particulares, e são essas peças que depois de tratadas e seleccionadas, damos às mulheres para mudarem a sua imagem. Caso não existíssemos, esta roupa iria para contentores e aterros, assim alargamos o ciclo de vida destas peças, entrando no modelo de economia circular. Neste contexto de redução do desperdício ao mínimo surgiu-nos outra ideia, criar um atelier de costura que transformasse as peças já desactualizadas, modernizando-as, dando-lhe um novo ciclo de vida. Com base nesta estratégia, desenvolvemos um projecto fantástico que é um negócio social. Com o retorno que temos, remuneramos as costureiras e reforçamos a sustentabilidade dos nossos programas de inclusão. O Lab Costura vai às empresas e faz arranjos e confecção para os colaboradores das que aderem ao projeto. Muitas das empresas têm uma forte responsabilidade social interna e gostam de dar benefícios, de forma a facilitar as rotinas de quem lá trabalha, rentabilizando o tempo para que possam dedicar mais horas à empresa e à família. Mais uma vez nós estamos a contribuir para a redução do consumismo desmedido, mantendo as peças na posse das nossas doadoras durante mais tempo, na realidade muitas vezes doam porque não tem vagar para irem a uma costureira fazer os ajustes necessários. Acontece com todas nós termos peças das quais gostamos muito e que é difícil desapegarmo-nos, porque muitas vezes a nossa roupa conta uma historia e tem muito significado para nós. Isto não irá afectar as doações. Poderemos receber menor quantidade, mas em melhor estado, o que reduz custos no tratamento da roupa. A nossa costureira tem arte, brio e confecciona de tudo o que for necessário. Acho que recuperar este conceito que vem do tempo das nossas avós, é maravilhoso!

C: Uma empresa que queira ter este serviço como é que faz?

T: Entra em contacto connosco através do email geral@dressforsuccess.org, enviaremos a apresentação do projeto e as condições de adesão. Posteriormente fazemos uma reunião para definirmos os dias e apresentarmos a costureira que ficará alocada à empresa. Toda a gestão do projecto é da responsabilidade da DFSL, cumprindo todas as regras fiscais, como qualquer outro negócio.

C: Fecha o círculo da sustentabilidade

T: Exactamente, muito focado na Economia circular.

C: Passando daqui para números. Gostávamos de ter uma noção do impacto desde o início.

T: A Dress abre portas no ano de 2012, e desde essa altura o nosso impacto tem sido significativo, através de todos os nossos programas, Boutique, Centro de Carreira, Fadas Madrinhas, Professional Women's Group (PWG), e não deixando de fora as acções que temos desenvolvido ao longo do país, até ao fecho de 2019, já apoiámos 3.495 mulheres.

C: São óptimos indicadores! E por falar em evolução, dizia-me há pouco que o PWG está a acompanhar esta energia e vai mudar a sua estrutura. Como vai funcionar no futuro?

T: Ainda bem que a Carolina trouxe esse tema para esta nossa conversa. Os programas estão a ser todos reestruturados e a questão da sustentabilidade tem que ser vista com outros olhos! Em 2018, a DFSL teve uma fase mais conturbada que ocorreu na mudança de instalações. Foi muito complicado arranjarmos um novo espaço, atendendo aos recursos que temos e à área útil de cerca de 150 m2 que precisávamos. Isto fez abrandar um bocadinho o projecto.

Em relação ao PWG, que é um programa de liderança e vai na sua 5ª edição, terá um formato completamente diferente. Até aqui tivemos sempre linhas de financiamento que apoiaram o programa, como o caso da Sage Foundation e o Pact Fund da Deloitte. O target era para as mulheres que já tinham passado pelos outros programas da DFSL e que estavam a trabalhar, com baixos salários. Esta era uma oportunidade para reforçarem competências, e acreditarem que ao investirem nelas seria o caminho para o sucesso das suas carreiras. A taxa de retenção de emprego das 4 edições ainda hoje é de 41%. Tínhamos como parceiro social a Universidade Europeia e um conjunto de oradores de excelência. O programa foi sempre presencial, gratuito e tinha a duração de 6 meses. A participante com maior avaliação no projecto final que denominamos por CAP "Community Action Project ", ia aos Estados Unidos ao Success Summit representar a Filiada. Suportar a viagem e a estadia de cada representante, é o apoio que a Dress Worldwide nos dá para desenvolvermos o programa. No futuro este programa será virtual, direccionado a um público com mais capacidade financeira, terá um custo por participante, o formato será todo revisto e estamos a trabalhar para que no final possam vir a ter uma bolsa de estudo para valorizarem a sua formação académica e ocuparem lugares de liderança nas empresas. Vamos dar oportunidade a outras mulheres, vamos subir um pouco a fasquia. Os critérios de selecção serão mais exigentes, mas nada invalida que muitas das mulheres que passaram pela Dress e estejam empregadas se candidatem. Vai ser reestruturado, muito focado na liderança e no empreendedorismo.

Acho que estes meses nos deram tempo para pensar e adaptar o programa às necessidades e aspirações de cada pessoa. O Success Summit neste momento está em suspenso, mas no futuro iremos ter sempre um participante a representar a DFS Portugal.

C: Acho que é importante esclarecer que a DFSL tem diferentes programas. O início é o Centro de Carreira, segue para a Academia de Desenvolvimento e depois de estar integrada profissionalmente, existe a possibilidade de se candidatar ao PWG, certo?

T: Exactamente! Criam-se sinergias entre os diferentes programas. Reforço que o PWG é a cereja no topo do bolo, mas os critérios de selecção, como já referi atrás também serão mais exigentes. Mas até chegarem ao PWG existe um percurso. Passam pelo Centro de Carreira há toda uma preparação: procura activa de emprego, revisão do CV, e depois pelo programa da Boutique, onde além da imagem, trabalhamos a confiança e a auto estima.

Vamos fechar parcerias com empregadores de referência, e após concluído o processo individual de cada uma, vamos colocá-las no mercado de trabalho, onde irão recuperar a sua autonomia e independência financeira.

Iremos criar condições e disponibilizar todos os meios, de forma a poder atender a vários segmentos. Muita coisa será realizada virtualmente, através das plataformas Zoom, Teams, por isso no Centro de carreira haverá um espaço devidamente preparado para as mulheres que não tem computador, poderem assistir às calls, ao mentoring e às entrevistas de emprego que seremos nós a marcar junto dos nossos parceiros.

A nossa conversa com a Teresa ainda nem vai a meio. Fazemos um intervalo para conversar com uma mulher que já passou pela DFSL, a Maria João, que participou no Programa das Fadas Madrinhas em 2015, e foi esta senhora que alinhou nesta aventura de transformar as suas pestanas, uma oferta especial para a DFSL de uma profissional de excelência, a Margarida Pedrosa, fundadora da Hi Lash, que quis com a sua arte dar um contributo a este projecto.

C: Maria João, como é que conheceu a Dress?

M: Através da AMI, numa época em que me estavam a dar apoio.

C: E que tal foi a primeira reacção?

M: Foi um bocado assustador, porque eu passava o dia no sofá, do sofá para a janela, da janela ia para o sofá outra vez, e passava assim o meu dia. Depois tive algumas reuniões com a Teresa. Ela começou a puxar-me a camisola "Anda, e anda, e anda, e anda, vai-te fazer bem!" e lá fui. E houve um dia em que eu disse a mim própria, eu tenho de ir porque a Teresa, mais do que qualquer outra pessoa, sabe o que está a dizer e está a mostrar-me o que é e será melhor para mim.

C: E como aconteceu até chegar a este momento?

M: Depois de acabar o projecto das Fadas Madrinhas a Teresa ficou sempre em contacto comigo e depois do Rock in Rio já eu tinha (e esta expressão cai que nem uma luva) "a pestana aberta", agarrei a oportunidade e pus-me a caminho. O hotel apresentava uma boa oportunidade de emprego, eu candidatei-me e fiquei com um contrato de trabalho. Depois surgiram-me outras oportunidades, para os cruzeiros, trabalhos de 1 ou 2 semanas, agradecia mas tinha que recusar pois já tinha uma estabilidade no Hotel onde ainda hoje estou a trabalhar.

C: E está contente? Conte-nos que hotel é que é?

M: Palácio do Governador. O espaço é lindíssimo. E quem vai recomenda a outras pessoas. É em Belém, mesmo virado para a Torre de Belém.

C: Há quanto tempo lá está?

M: Vai fazer 5 anos. A equipa e todo o ambiente são muito bons. Entrei para lá para limpezas, depois fui promovida a Chefe de Lavandaria e agora como Supervisora de quartos.

C: Muitos Parabéns! Isso é uma subida exponencial.

M: Às vezes com medo, será que eu vou conseguir? Eu vou conseguir! Mas eu acho que não há nada melhor do que nós vencermos os nossos próprios medos.

C: E o medo só mostra que está a abraçar um desafio, que está a fazer uma coisa nova. Ele está ali, podemos vê-lo, mas depois o caminho é para a frente e vamos embora. Está a sair da sua zona de conforto para algo melhor.

M: Eu gosto muito daquilo que faço. Eu nunca tinha estado a trabalhar num hotel. Não sabia como era a rotina, como funcionava, e senti-me muito apoiada por toda a equipa. Tudo o que eu faço ali, nunca fiz na vida.

C: E no resto da sua vida sentiu diferenças?

M: Tenho uma filha de 27 anos que olha para mim de forma diferente. Houve várias mudanças, todas pelo lado positivo.

C: A Maria João é uma inspiração. Muito Obrigada por ter aceitado o convite da Teresa para estar aqui e por fazer parte desta iniciativa.

Depois de uma história tão inspiradora como a da Maria João, para a semana vamos contar-vos o que a DFSL está a preparar para o futuro! Tenham uma óptima semana e descansem, só têm de esperar mais uns diazinhos até ao próximo "shot de inspiração!".