Dia dos Avós: Carta Vencedora

08-08-2017

Como combinado hoje é dia de revelar a carta vencedora. A carta da Ana, a quem a Avó também chama Nita, mostra bem essa ligação mágica e tão especial de que temos falado durante este desafio. Vinda do frio, Cracóvia na Polónia, esta carta é muito calorosa. Partilhamos convosco as suas palavras.


CARTA VENCEDORA


Cracóvia, 26 de Julho de 2017

Querida avó!

Espero que te encontres bem! Eu estou bem, cá longe, mas sempre contigo na lembrança e no coração. Esta distância que nos separa, mas em momento algum nos desconecta! Gostava de te abraçar mais vezes, de ter ver mais vezes, de adormecer no teu colo como em outras tantas vezes... quando pousava a minha cabeça, cansada, no teu colo e só isso me acalmava, me apaziguava esta alma ansiosa. Saí do país em busca de algo melhor, atrás de aventura e sonhos. Com a mala carregada de projectos. Hoje, passados 3 anos, já só penso em voltar! Nada compensa a ausência. Esta ausência de afecto, este espaço que nos separa do toque, este desconsolo, este choro miudinho e esta dor a moer calmamente a alma... Perdemos brilho.. o amor quer- se na presença, quer-se no toque, vive e alimenta-se do sentimento presente, do afago e aconchego.. Nao ha braços como os teus minha querida avó... Todos os dias penso em ti, todos os dias te busco, tento encontar-te em olhares bondosos de vizinhas, tento sentir-te nos abraços das minhas amigas... mas não chega... nunca chegará para colmatar esta falta imensa em mim.. Amo-te tanto quanto o primeiro dia em que te vi. Abri os olhos e tu estavas lá. Sempre estiveste lá. Fui para tua casa com alguns dias de vida e juntas permanecemos até aos meus 31 anos. Todos os dias. Todos esses dias nos amamos, nos aconchegamos, brincamos, protegemos, partilhamos. Todos os dias nos acrescentavamos. Minha avó, minha querida avó! Minha avó que de ti tudo tenho: o riso alto, o cantar feliz, o sorriso nos olhos, a compaixão e a força. A força de tudo aguentar sabendo que há outro dia, há outras pessoas e que tudo passa. "Tudo passa Nita", tantas vezes me dizes! Neste abraço apertado, sufocado por saudades, com as lágrimas a querer saltar dos olhos, e a fugirem pelo coração, vais-me sorrir e dizer: "já falta pouco para estarmos juntas Nita! " Este teu optimismo vó, esta tua força, é o que me faz permanecer forte quando quero chorar de saudades, é o que me faz sorrir mesmo com os olhos cheios de lágrimas. É este acreditar! Minha querida avó! E que para além do tempo e do espaço, este dia seja nosso! Com sorrisos e tolices! E abraços e mimo bom, aquele mimo que só tu me sabes dar, que só o teu sabe tão bem. Minha querida avó com quem cresci e sempre vivi, minha avozinha ❤ celebremos a vida! A todos vós, meus queridos avós, um dia feliz! Um dia será pouco para celebrar o que vocês são! A vós, a vida toda! Recebam um forte abraço e mil beijos desta que poderia ser a vossa neta! Recebam amor, compaixão e alegria desde este país tão distante e tão frio. Que esse amor pelos vossos netos, o amor que tenho à minha rica avó, aque\a hoje os nossos corações! E que juntos celebremos: a vida!!!

Da tua sempre,

Nita

São cartas como estas que nos enchem o coração. Nos lembram de parar por momentos, nos nossos dias rápidos e atribulados, para dar lugar aqueles que amamos e que fazem parte da nossa vida. Patilhamos mais duas cartas convosco.


Lisboa, 31 de Julho de 2017

Estou atenta aos Avós

Estou atenta aos Avós. Aos meus, que tive e à Avó que ainda tenho, aos das outras pessoas, aos Avós em geral. Vejo os Avós que nesta altura do ano ganham uma vitalidade brutal pela importância que têm no apoio familiar que são para pais e mães que estão a trabalhar e que não têm, como acontece com os seus rebentos, 3 meses de férias. Aí, Avós e netos embarcam numa aventura espectacular baseada na redescoberta de rotinas que se criam temporariamente e memórias que vão durar uma vida inteira. Momentos que vão definir quem são, de uma forma mágica que só quem fez coisas em casa dos Avós que não fez em mais lugar nenhum consegue perceber. Aliás, no momento em que começo esta minha carta, tenho à minha frente um neto e uma Avó que - divago eu - vão numa qualquer aventura esta tarde.

Se os pais têm que educar, os Avós podem, na sua maioria, quebrar todas as regras. Dizia-me há pouco tempo uma Avó: "Eu imaginava que quando fosse Avó, fosse ser uma Avó porreira e só fazer coisas divertidas, mas eu vou buscá-las todos os dias à escola e também tenho que impor algumas regras." Vejo esta Avó com as suas netas e só vejo doçura. Doçura quando as duas mais pequenas vêm, em tempos diferentes, perguntar-lhe se podem guardar os chocolates no frigorífico para não derreterem. Imagino - e divago eu outra vez - que os vão comer juntas num dia em que as regras sejam atiradas pela janela, e atenção sou acérrima defensora da importância de existirem regras e estrutura como fundação para se construírem crianças felizes e saudáveis, mas defendo igualmente que atirar uma pedra no charco de vez em quando e furar regras e rotina é igualmente saudável; dizia eu que numa tarde dessas, irão, Avó e duas netas não pensar nas cáries ou no açúcar e apenas se deliciarem de forma cúmplice nesta guloseima partilhada.

Dizia-me uma bisavó quando lhe disseram "Não podes dar presentes às miúdas cada vez que elas vêm cá a casa" que respondeu "As bisnetas são minhas e não sabes quanto tempo cá vou estar, vou-lhes dar os presentes que quiser." E neste misto de chantagem emocional com afectos a transbordar, se cala uma Mãe ciosa de mostrar às suas filhas pequenas que o Amor não se mede pelos presentes, se mede pelos afectos.

E outra Avó ainda que estava sempre impecavelmente bem arranjada, lindos cabelos brancos sempre muito penteados e que alinhava com os netos - e lá vou eu outra vez - de sangue e os adoptados em todas as aventuras por mais irreais que pudessem parecer. Para uma Avó o nunca existe de mãos dadas com o tudo. E se lhe pedem ajuda para realizar um sonho ela não diz que não. E esta Avó, um dia, foi com a sua neta atrás de um sonho. O sonho tinha a forma de uma casa e ninguém vende uma casa a uma miúda. "Avó podes vir comigo?" E foram as duas. E o sonho foi o mesmo durante muitos anos. A Avó já não está a não ser no coração, desta neta e, diria eu, de todos os que a conheceram. Até que um dia esse sonho se realizou e hoje esta neta vive na casa com que sonhou de mão dada com aquela Avó.

Penso nas Avós que gostávamos que fizessem parte das nossas vidas e que por acasos da vida nunca o chegam a ser. Pessoas que estiveram na nossa vida e já não estão. Penso que tantas pessoas gostariam de partilhar com elas coisas de netas, filhas, Mães, Avós, cumplicidades dessa ligação tão profunda que podemos ter na família de sangue ou na que construímos durante a vida. Porque acho que os afectos não se limitam a - perdoem-me o cortar a direito - uma contribuição biológica. Porque se não investirmos um bocadinho nas nossas relações a magia da cumplicidade perde-se. Por isso existem dias em que temos que parar tudo - nem que seja no último dia do prazo a que nos desafiaram - para escrever uma carta para os Avós. Porque existem Avós que são absolutamente espectaculares. Porque se existem Avós / Pessoas que estão rodeadas de gente, existem outros que não estão. Porque a vida tem uma rotina própria que numas alturas a nossa vida é corrida e outras em que ela abranda e nós com ela. Porque se aos 2, 3 e 4 anos nos têm que dizer "Não se corre dentro de casa", aos 83 isso não nos passará pela cabeça (digo eu...). Mas não são precisas razões para dar um bocadinho de tempo e pensar que do outro lado desta carta pode estar alguém que vai gostar de ter uma palavra amiga. De ter a confirmação que do outro lado desta carta, estiveram um conjunto de pessoas que se juntaram para dar um momento de alegria a quem o ia ler e que este momento de partilha e leitura ia acompanhado de um pequeno presente. De lembrar que a vida, seja com 3 ou 83 é uma verdadeira bênção, mesmo quando existem obstáculos. Que termos uma visita, esperada ou até inesperada, que nos quer fazer bem é, por si só um momento de alegria. Que o nosso mundo está onde o nosso pensamento nos levar e por isso está ao alcance do mundo todo. Que fazer uma coisa boa por alguém está à mão de qualquer pessoa, basta estar atento.

Este desafio solidário levou-me para o mundo de quem tem tanta coisa para contar. Com mais ou menos netos. De sangue ou adoptados. Sem netos mas cheio de boas memórias com os seus Avós. O círculo fecha-se aqui! Nos netos que somos ou nos Avós que queremos ser. Nas pessoas que enchem as nossas vidas de coisas boas e nesta retribuição: acabamos sempre por receber afectos de volta, quando fazemos algo de bom para alguém. A propósito do Dia dos Avós se faz uma carta para iluminar o dia de quem a receber.

Mãe, Filha, Neta e espero um dia ter a bênção de ser Avó

CARTA AOS AVÓS - DE SANGUE E DE CORAÇÃO

Um dia, por meio dessa magia que é receber vida, nasces e conheces este maravilhoso mundo. Ao longo dos anos és orientado pelos pais, avós e demais familiares, traçando o teu caminho, definindo o teu Ser, demarcando a tua personalidade. Os amigos também seguem ao teu lado, partilhando primeiro a inocência da infância, depois o atrevimento da adolescência e por fim a descoberta da juventude. Aí descobres o amor, a paixão, cometes loucuras, arriscas. Na mente a certeza de que se não aproveitares nessa tenra idade, um dia ela vai pesar e não poderás realizar todos os teus sonhos. Mas não... Porque aí dás o passo para formar a tua própria família. Primeiro o namorado(a), depois o esposo(a), e então decidem continuar o seu legado gerando vida novamente. Deixaste de ser só filha(o) e neta(o), para ser mãe(pai). E nesse momento tens estes três papéis reunidos em ti, numa só pessoa. Ao longo da vida vais dizendo adeus a algumas pessoas, doloroso adeus esse, mas renovas a vida, geração após geração. E então os teus filhos oferecem-te um bem muito precioso, os teus netos. Se um dia foste filha(o), neta(o) e mãe(pai), agora és avó(avô). E que rica ligação essa, cheia de carinho, isenta de responsabilidades e com espaço para dar azas ao amor. E que papéis importantes que desempenhaste ao longo da tua vida, aprendendo tanto com cada um deles. Agora olhas para trás e pensarás talvez que muito ficou por fazer ou dizer. E depois? Em 24 horas de um dia cabe tanto. Não arrecades as armas, a vontade, o desejo e os sonhos. Já não tens as mesmas pessoas que te acompanhavam antes? Partiram ou não te vêm ver mais? Com certeza existem outras à tua volta que quererão acompanhar-te na tua jornada, consegues identificá-las? Tenho certeza que sim. Já não sou neta, adeus precoce tive que dizer, também não sou mãe, e como tal, nem avó. Mas sou filha e desejo um dia ser mãe e avó. Recordo com nostalgia essa terna ligação, esses avós que me recebiam com um abraço apertado e me cobriam de beijos depois de longos meses sem me verem. Recordo o afeto, o carinho, os cuidados, o sorriso. Desejava que ainda cá estivessem para lhes dizer o quão queridos me eram...espera...o quão ainda são, pois continuam vivos em mim. E desejo um dia transmitir os meus conhecimentos, o meu amor e o meu afeto aos meus netos, para que dessa forma eles possam ser mais e melhor. A todos, incluindo os que a vida me trouxer e que não partilhem do meu próprio sangue. Quanto a ti, e permite-me esta proximidade e tratar-te por "tu", usa o carinho e o amor que ainda existem em ti...sim sei que existem...para distribuir a quem dele precisa e a quem está por perto. Sempre que dás acabas por receber em troca. Oferece um sorriso e verás como alegras o dia de alguém. E essa sabedoria conseguida ao longo de todos estes anos? Usa-a em teu proveito e partilha-a. Reúne todos aqueles que gostam de te ouvir e conta as tuas histórias e vivências, cada uma delas, do seu jeitinho, ajudará alguém com a luta que de momento trava. Não penses que acabou, nem ouses fazer tal coisa! Acredita em mim e lembra-te: até que os olhos se fechem, a alma ainda voa. Posso contar contigo para juntos alegrarmos conhecidos e desconhecidos? Acompanhas-me nesta missão?

Helena Rodrigues



Esperamos que tenham gostadotanto como nós deste momento de partilha. Os presentes estão a ser entregues aos utentes da Associação Mais Proximidade Melhor Vida e deixamo-vos com alguma fotografias que recebemos da insituição.

Muito obrigada a todos os que participaram neste desafio!